A Maratona Salvador é a única prova dessa distância presente no calendário baiano de corridas de rua. Nascida em 2017 para atender a demanda dos milhares de atletas baianos que viajam país afora, em busca da tão sonhada distância de 42,195 metros, e também para a movimentação da economia local através do turismo esportivo.
Salvador é uma cidade de clima tipicamente tropical, quente e úmida, praticamente o ano todo. Qualquer prova em Salvador, possui uma grande probabilidade de ser realizada em condições climáticas adversas, independente da época do ano. Os atletas que treinam o ano todo nesse clima, possuem algum alívio entre os meses de maio a julho, quando também acontecem outras provas bastante tradicionais em outras cidades e que possuem um clima frio.
Em sua segunda edição, realizada neste último domingo, a Maratona Salvador foi realizada com importantes mudanças, em especial o seu percurso em relação ao do ano anterior, em face dos pedidos da maioria dos corredores. Além disso, como novidades, a premiação pecuniária foi recorde no País, e foram inseridos no circuito a distribuição de isotônico e Coca-Cola em alguns dos postos de hidratação, medalha exclusiva para o finisher 42k e uma série de requisitos técnicos, para que a prova pudesse ter o reconhecimento selo bronze da IAAF, a Federação Internacional de Atletismo.
As expectativas, portanto, eram as melhores, pois tudo havia sido planejado para que a prova fosse grandiosa, ainda que apenas em sua segunda edição.
Na véspera do evento, realizou-se o Congresso Técnico, voltado para os atletas de elite e seus treinadores. Durante a conferência, a prova foi detalhada e esmiuçada e foi informado que a Maratona Salvador fará parte do calendário Internacional das provas que classificam atletas através de seus índices para os grandes eventos do atletismo mundial.
O grande dia, 23 de setembro, amanheceu em plena primavera, mas com um Sol de verão. O clima já dava indícios de que o dia seria atípico. Pontualmente, às 5h30, largaram os atletas de elite e, em seguida, os amadores, que fariam as distâncias de 42k e 21k. Às 6h, os demais atletas das distâncias de 5k e 10k, largaram.
Nos bastidores da prova, começaram a chegar as primeiras notícias, algumas boas e outras preocupantes. As boas: os atletas locais estavam indo bem, a exemplo de Márcio Barreto, Marily dos Santos, Rebeca “Star”, Ediane Pires, Elaine, Gabriel Brandão dentre outros. Mas as ruins também chegavam: dois caminhões que levavam gelo, água e gradis, quebraram antes de seus respectivos destinos. Isso gerou uma nova Maratona, mas dessa vez fora do circuito para amenizar eventuais problemas.
Com o passar dos minutos e dos quilômetros, mais más notícias. Em determinado trecho do percurso de 21k e 42k, formou-se uma fila de veículos que insistiam em invadir o percurso da prova, ainda que a Municipalidade tenha afixado faixas e luminosos dias antes da prova informando dos bloqueios. A incompreensão destes motoristas em relação ao fechamento das vias, tornou necessária a severa intervenção da Polícia Militar, inclusive em proteção aos agentes da Transalvador e dos atletas.
Todos esses problemas, porém, não prejudicaram a maioria dos atletas, principalmente os mais rápidos e intermediários. Talvez pela maior experiência em provas. Por outro lado, os atletas que vieram depois desse grupo, relataram pontos importantes da prova que foram prejudicados pelas intercorrências, principalmente como consequência dos veículos que quebraram. Dentre estes relatos, havia a queixa da água não estar resfriada, assim como o isotônico, que além disso, não estava sendo oferecido da forma que fora orientado e planejado.
A hidratação de uma prova é uma das centenas de itens que compõem a mesma. Acontece que quando existe qualquer problema com a água, faz parecer que a prova se resume a este item. Afinal, ela é essencial para a conclusão de uma corrida, principalmente se for de longa distância e debaixo de um calor abrasador. Fazendo uma analogia, se a hidratação de uma prova for boa, ela terá uma representatividade de 10% durante a avaliação da mesma, mas se hidratação for ruim, não importando o motivo, ela representará 90 ou 100% da sua nota.
Alguns outros relatos relevantes merecem destaque, como o comportamento de parte da população. Muitos ciclistas invadiram o percurso e familiares ou amigos transitaram na área da chegada. A mudança destes comportamentos levam tempo e precisam ser inibidos através de uma maior implementação estrutural aliados a campanhas educacionais para a população. A população de Salvador ainda não está acostumada com eventos desta natureza.
No final das contas, o mais importante é que a Maratona de Salvador está sendo construída de forma brilhante. Brilhante porque todos estes detalhes, serão analisados, no sentido de criarem mais de um plano de contingência, em caso de necessidade de usá-los. A Maratona de Salvador deu um passo importante e mostrou que temos na Bahia pessoas de coragem e incansáveis, que trabalharão para ter a melhor Maratona do País. É tudo uma questão de tempo, e de pouco tempo.
A equipe do Esporte Mundo teve o privilegio de interagir com os organizadores da prova e ver de perto o empenho e dedicação que tiveram. Além disso, a nossa equipe fez a cobertura fotográfica da prova e através das fotografias, vimos que a Maratona Salvador gerou muita alegria, felicidade e superação. Os problemas, as críticas e qualquer outra coisa que tiveram, se transformarão em cicatrizes de guerra e farão parte de uma linda história com um duro caminho, que a própria Maratona irá percorrer.