Leleca, uma nadadora, um oceano, caravelas e 60 Km de coragem

Leleca, uma nadadora, um oceano, caravelas e 60 Km de coragem

No azul profundo da determinação, está escrito a história de Leleca. Um desafiou que inspirou nossos corações
26/1/2024

Nas águas azuis da Baía de Todos os Santos, onde o sol beija o oceano e o vento conta histórias antigas, foi escrito uma linda história de coragem e determinação.

Alessandra Penariol Melo, ou Leleca, como é carinhosamente conhecida, não realizaou apenas uma imensa travessia de Salvador a Morro de São Paulo, mas uma verdadeira jornada que ousou desafiar os limites do mar e a sua própria existência.


Largada com família e equipe - Foto Sandrinha Midlej

Desde sua infância, Leleca foi envolvida pelo encanto das águas. Seu pai, que foi nadador profissional do Palmeiras, moldou seus primeiros mergulhos, ensinando-a a nadar antes mesmo de dar seus primeiros passos. O amor pelo mar tornou-se sua essência, uma conexão profunda que transcendeu os anos, levando-a das piscinas de São Paulo às águas de Yemanjá na Bahia.


Hidratando - Foto Sandrinha Midlej



Nandando pela noite  - Foto Sandrinha Midlej

O chamado do oceano despertou em Leleca a paixão por desafios. Em 2019, ela enfrentou a travessia da Ilha de Itaparica para Salvador, uma jornada de 12 km, dois dias seguidos. No primeiro dia, mar calmo e correntezas a favor, fez em 2h30. No segundo dia, o mar virou e o mesmo percurso só foi concluído em 4h30. Mas não foi o trajeto fácil que a conquistou; foi a imprevisibilidade do mar, a mudança repentina de suas águas, que a fez desejar mais. Uma vontade de abraçar a imensidão e superar as limitações.


Lelca - Foto Sandrinha Midlej


Assim, ela mergulhou de cabeça no mundo das ultramaratonas aquáticas, desafiando-se a nadar distâncias cada vez maiores. Os Três Faróis, 36 km em 10 horas, foi a primeira conquista. E como uma sereia determinada, ela ansiava dobrar a distância, alcançando a lendária travessia de Salvador a Morro de São Paulo, uma incrível jornada de 60 km em águas abertas.


Mar balançado - Foto Sandrinha MIdlej


Seu treinamento, uma saga de disciplina e resistência, durou dois anos. Noite após noite, ela enfrentava as águas escuras, encarava peixes curiosos e caravelas traiçoeiras. Nadou até queimar seus músculos e testar a força de sua mente. Cada braçada, um passo em direção ao desconhecido, cada quilômetro percorrido uma conquista sobre si mesma.

O dia 18 de janeiro chegou, e Leleca lançou-se ao oceano, determinada a superar todos os desafios que a aguardavam. A correnteza forte e o vento incansável eram apenas os primeiros obstáculos. Mas, no quilômetro 35, um desafio ainda maior surgiu.

Caravelas, animal marinho que possui em seus tentáculos um veneno capaz de causar queimaduras de até terceiro grau, estavam no seu caminho. Esse veneno queimou sua pele, desencadeando uma reação alérgica. Mas Leleca não recuou. Nadou, mesmo vomitando, resistindo à dor intensa. Seu corpo queimava como uma chama, mas a correnteza e o seu sonho a empurravam em direção à vitória.


Leleca com a família, pura emoção - Foto Sandrinha Midlej


A equipe de apoio, uma força leal ao seu lado, estava lá em cada hidratação, em cada momento de desespero. O juiz da Federação Baiana de Natação, com o poder de interromper a prova para proteger a integridade de Leleca, estava atento. Mas ela persistiu, consciente de sua missão.

Os últimos 10 km foram uma batalha contra o cansaço, contra a dor, contra o próprio oceano. O Rio de Contas tentou detê-la, mas Leleca resistiu. A vontade de alcançar Morro de São Paulo era mais forte do que qualquer tormenta.

Quando seus filhos apareceram no barco guia, gritando palavras de encorajamento, Leleca encontrou uma nova força. Cada braçada era impulsionada pelos ecos de "Bora, mãe!". Com quase 24 horas, ela emergiu da água, desfigurada pelas caravelas, mas triunfante.


Emoção na chegada - Foto Sandrinha MIdlej


Na areia, diante do juiz, ela não podia se levantar devido à dor excruciante que sentia nos pés. De joelhos, ela rastejou, concluindo com êxito, com humildade e determinação. Seu pai, aos 82 anos, que se preparou para nadar os 50 metros finais, preferiu permanecer na areia, rezando por sua corajosa filha.


A chegada - Foto Sandrinha MIdlej



Leleca após chegada em Morro de São Paulo - Foto Sandirnha Midlej 


A história de Leleca não é apenas sobre uma travessia, mas sobre a coragem de desafiar o desconhecido, a resiliência diante da adversidade e a força interior que nos impulsiona além de nossos limites. Sua jornada não é apenas uma conquista pessoal; é uma inspiração para todos nós, um lembrete de que, com paixão e determinação, podemos transformar desafios em vitórias e criar histórias surpreendentes que ressoarão através dos tempos.


Missão Cumprida - Foto Eneida Melo


Confira também galeria de Fotos da Travessia https://www.esportemundo.com.br/fotos/leleca-travessia-salvador-morro-de-sao-paulo


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